sexta-feira, 11 de março de 2011

Liberdade

Num lugar, não sei onde, há uma garota que vive numa liberdade sem fim. Liberdade esta que não quis, foi obrigada a ter. Sem ninguém, ela pode fazer o que quer, morar onde quiser, ser e usar também. Como disse acima, não sei onde ela está, mas a conheci numa rua conhecida como Praça Roosvelt, uma parte do centro de São Paulo que alguns conhecem por Praça do Ator. Era linda... não a praça, ela; Pamela; a bela Pamela que estava assistindo uma das peças daqueles vários teatros que ficam na tal praça.
Sentei-me ao seu lado, e foi aí que tudo começou.
- É lindo não é? Começou ela, vidrada naquela peça.
Eu, sem jeito, respondi que sim, foi este muito acanhado e ela percebeu.
- Pamela. E você é...? Virou-se para mim e passou a encarar-me.
Jim... sou musico. Desculpa, não perguntou isso. Tolice a minha, ela apenas queria o meu nome.
- Sou atriz. Bem, amadora, mas atriz... quanta doçura numa pessoa só.
Tivemos mais alguns diálogos, assistimos a peça, fomos tomar café juntos e, depois de muita musica e atuações, fomos para meu apartamento. Não foi uma noite, foram 37 dias com Pam em minha vida e teve como fim dia 13 de dezembro. Em uma de nossas conversas perguntei onde ela morava e continuarei daí.
- Em todo lugar...
Mal acabou de responder e novamente questionei, Como em todo lugar?
- Não tenho casa. A cada dia 13 me mudo para um lugar e nunca mais volto para o antigo.
- Por quê? Fiquei perplexo, Pam partiria em breve. Então... perderei você dia 13?
- Perdi pessoas num certo dia 13... e você nunca me teve, Jim. Foi como uma facada; discutimos, mas ela mudou de assunto e acabei a aceitar.
Cada vez mais a conhecia melhor; Pamela era quem eu amava... e os dias foram passando.
“Eu te amo, Pam” (...) “Jim! Seu bobão!” (...) “Pam, pequena Pam” (...)
Dia 10, Pamela sumiu; desapareceu. Desesperei, faltavam ainda 3 dias. A procurei por todos os lados de São Paulo, nada. Já estava morto por dentro, chegara dia 13. Quase noite, recebi uma ligação.
- Rodoviária, Jim, venha... agora. Portão 46.
Fui como um louco atrás dela. Pamela estava partindo, era certeza. Cheguei lá e ela já estava dentro do ônibus, indo embora. A vi, e ela idem. O vidro estava embaçado e ela escreveu “Strange Days”, foi então que a perdi de vista.
E assim ela se foi, sabe lá para onde; a procurei por meses, quando percebi que ela não queria ser encontrada. A garota da eterna liberdade; ganhada de mal gosto, mas acostumada.
“Olhos estranhos ocupam salas estranhas / Vozes anunciarão o seu cansado fim / A anfitriã está sorrindo / Seus hóspedes dormem em pecado / Me ouça falar sobre o pecado / E você saberá que é mesmo assim" Strange Days, The Doors.

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