domingo, 20 de junho de 2010

Cartas que fiz para não lhe entregar

Sorriu falsamente; seus olhos se mantinham brilhando; não era a felicidade que transparecia, mas sim a dor. Olhou-o sobre aquele túmulo, uma frase qualquer ali escrita, que foi escolhida por alguém qualquer que não o conhecia; ao contrário dela, que o conheceu num dia qualquer mas nunca foram um qualquer para o outro.

Belo túmulo... tumulo que ali jazia alguém que havia sido importante; talvez mais importante do que qualquer outro; alguém que lhe ensinou algo importante, alguém que ela sempre quis dizer tudo o que sentia, mas, nunca pode. Havia tanta coisa em jogo, ainda há tanta coisa. Sua alma vagava para perto dela; ela podia sentir sua presença. Ele estaria feliz em algum lugar. Ele estaria sorrindo para alguém, alguém que para ela era qualquer.

Deveria ter dito naquele instante, a tanto tempo atrás, que seus sentimentos eram além; mas, hoje... hoje já era tarde; nada mudaria, ou talvez, mudaria para a pior.

Esticado, com as mãos no peito, abraçando a si mesmo; o abraço que tanto ela quisera; seu coração estava morto; mas, mais morto que o seu coração era o dela; palavras não ditas; tudo teria sido diferente talvez. Mas, não foi.

Por muito tempo ela sofreu, mas hoje, ela estava serena, sabendo que tudo havia chego ao fim. A serenidade era apenas na fisionomia; pois, seus músculos se contorciam, seus dedos estavam sendo quebrados, seu coração amordaçado, seu cérebro passando flashs de bons momentos, aqueles que ela iria guardar; flashs dolorosos; flashs tristes, tristes agora; nada além disso. Flashs, flashs que deveriam ser esquecidos, assim como o seu coração; dores maiores que a vida; queria aprender a esquecer sentimentos; ser totalmente sem sentimento. Ela queria ser fria; tão fria quanto a neve. Ela queria que ele a ouvisse; mas tinha medo de que se afastasse.

Nunca havia tido um anjo tão grande como ele; nunca havia tido alguém que a fez amar tanto; que a fez sofrer tanto; ninguém nunca conseguiu isso; mas, tudo isso era passado; teria que seguir sozinha; mesmo ele dizendo que a nunca deixaria sozinha; mesmo ele dizendo que estaria por perto, não, não estaria.

As pessoas estavam ali, frente à aquele defunto; chorando; alguém agarrada a ele; alguém a qual ele amou; alguém a qual ela odiou. Intrusa, mentirosa, sínica; tudo iss-não, mais do que isso, mais do que qualquer outra coisa.

Mantendo suas mãos para trás, ela, com seus óculos de grau, não estava tão arrumada como os outros ali; queria ele a visse como ela era; então, decidiu ir até lá tão simples quanto ele sempre fora; pensou num pijama, seria algo constrangedor, mas ele riria em algum lugar; decidiu por fim em ir com um abrigo cinza; suas madeixas soltas; seu tênis surrado.

E foi assim que, mantendo seus olhos no morto, apenas sussurrou, com breves soluços, me perdoe por nunca ter lhe dito o quanto amei... mas eu não podia... sempre fui feliz por ter sido a melhor amiga que você poderia ter.

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